Continuo a sentir que voltei atrás no tempo
Continuo a sentir que voltei atrás no tempo, como se tivesse novamente quinze anos e subisse a rua do liceu numa tarde de Primavera, e o Morfeu passasse por mim e me piscasse um olho verde por baixo da franja comprida. E depois ele volta a pedir-me para ser sua namorada e a desaparecer durante todo o Verão. Nesse Inverno em que o Morfeu andou com outra rapariga, eu deitava-me em cima da minha cama e punha-me a imaginar que a minha vida mudava completamente de um dia para o outro, e que ele se apaixonava por mim. Tinha a sensação muito forte de que pertencíamos juntos. Para além disso, nessas minhas tardes de sonhos acordados, retrocedia em imaginação à infância e reconstruía tudo da maneira como sempre desejei que tivesse sido. Sentia assim felicidades que de outro modo não poderia ter experimentado. Outras vezes lembrava-me do Roque. E como também me cansava de viver só em sonhos, levantei-me da cama numa tarde amarelada e fui passear até à rua dele, para tentar vê-lo e assim distrair-me um pouco. Não tinha nada a perder. E, se o visse, melhor.
Quando virei a esquina da rua dele esta estava vazia. Mas enquanto caminhava em direcção ao seu prédio ouvi a grande porta da nossa infância abrir-se. Ele saiu. Vestia roupas pretas, calçava botas da tropa e tinha o cabelo louro e comprido a cair-lhe pelos ombros. Reconheceu-me imediatamente. E quando passámos um pelo outro sorrimos e dissemos olá. Voltei para casa pelos passeios cheios de carros dos anos oitenta com uma sensação quente no estômago. Será que ele também se sentia sozinho?
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