laralice in wonderland

sobre os meus livros. fotos de don key shot, aqui-ali, minhas, e de websites sobre river jude.

terça-feira, março 08, 2005

No pântano perto do lago Pana Soffkee

No pântano perto do lago Pana Soffkee comemos fruta e continuámos a nossa viagem interdimensional. Quando as alucinações diminuíram de intensidade esta tornou-se mais filosófica, dando origem a conversações profundas. E por fim senti uma enorme necessidade de estar só. Então afastei-me da Sea e do Sand, que continuaram a falar, e fui até à margem do lago olhar para as águas, sentada em cima de um enorme tronco de árvore descaído. Fiquei por ali não sei quanto tempo, perdida, a contemplar o meu reflexo. E depois vi mais uma vez a rapariga do outro lado do espelho. Sorrimo-nos e percebi que ela não me queria mal. Apenas estava triste e precisava de ajuda. Talvez precisasse de amor. De magia. De um pouco de felicidade. Entendi que era ela que aparecia nos meus sonhos. Por isso é que eu usava outras roupas e parecia diferente. Não se tratava de mim, mas sim dessa rapariga de sorriso triste.

O que se passa contigo? – perguntei-lhe.

Não me respondeu. Apenas continuou a olhar para mim, como se quisesse pedir ajuda e não soubesse como. Somente comunicava comigo através do meu reflexo e dos meus sonhos enigmáticos. Nada mais. Eu teria que interpretar sozinha o seu pedido e descobrir sem explicações os meios da minha ajuda, apenas através das aparições insistentes do seu reflexo que a partir desse dia deixou de me assustar. Disse-lhe, carinhosamente:

- Não te preocupes. Ainda não sei como, mas vou fazer-te feliz.

Ela voltou a sorrir. Depois desapareceu. Quando o Sand chegou ao pé de mim eu chorava e sorria simultaneamente. Ele sentou-se ao meu lado no grande tronco e abraçou-me. Eu disse-lhe que estava bem. A Sea tinha voltado para o carro e queria ir para casa. Fomos ter com ela, e no caminho para a quinta já não viajámos numa abóbora. Os meus cabelos ao vento entrecortavam as imagens, e eu pensava que não entendia porque existia sempre uma felicidade tão grande na minha vida. Achava que não a merecia, que não tinha direito a ela. E o resto do mundo? E a rapariga por trás dos reflexos?

Nessa noite eu e o Sand fizemos amor pela primeira vez, no meu quarto do sótão. Eu vi as estrelas na noite através da janela, e senti-me verdadeiramente num planeta, a girar lentamente, protegida pelo Sistema Solar, viajando eternamente pelo Universo. Nunca havia feito amor antes. Só sexo. Tínhamos velas acesas por todo o quarto, e apesar do frio ficámos muito tempo nus, sentados, agarrados, abraçados, de frente um para o outro, a contemplarmo-nos. Os olhos do Sand tinham galáxias dentro deles.