laralice in wonderland

sobre os meus livros. fotos de don key shot, aqui-ali, minhas, e de websites sobre river jude.

terça-feira, março 08, 2005

SOLSTÍCIO

A Luna parece uma japonesa loura. O meu padrasto é simpático e bonito, muito alto. A minha mãe emana felicidade e engordou. Continua, todavia, uma mulher bela. Mas aborreço-me. Se o Sand não estivesse comigo morreria de tédio. Não fico nem um segundo sem ele. Encontrámos um lago enorme e pantanoso que nos recorda o Pana Soffkee. Chama-se Gaasperplas. Desde então vamos até lá todos os dias de bicicleta e sentamo-nos num velho ancoradouro de madeira a fumar charros e a olhar para as ondas sopradas por um vento frio. Um moinho moderno e aerodinâmico gira as suas pás metálicas a poucos metros dali, em nada lembrando os sublimes moinhos antigos. Chuvisca muito. Nem parece Verão. Cheira a terra húmida e vêem-se cogumelos aos montes ao pé das árvores. Parece que estamos num país de fadas. Tenho a certeza de que se comêssemos cogumelos tampanenses as veríamos.

Ontem fomos ao centro com a minha mãe. Cheirava a erva pelas ruas cheias de gente e de cor. Se houvesse uma cidade no fim do arco-íris seria Amesterdão. Hippies descalços passeavam em grupos, com cães, e raparigas de tranças e saias compridas tocavam flauta no Vondelpark. Passou por nós um grupo vestido com fatos prateados, usando impressionantes botas de saltos altos e grossos, também prateadas, e as cabeças rapadas com apenas um fio de cabelos pintado de branco e espetado como uma antena. A minha mãe diz que esse grupo se veste sempre como extraterrestres.

Toda a gente olhou para mim, mas isso não me fez sentir mal. Pelo contrário, foram olhares diferentes da mirada tímida ou crítica de Portugal, e também da observação moral americana. Aqui as pessoas sorrirem-me, aprovam-me. Espanta-me não esconderem o verdadeiro motivo do seu olhar. Nesta cidade, entre as nuvens, existe consciência.