Ainda não me tinha lembrado que se calhar estou morta
Ainda não me tinha lembrado que se calhar estou morta. Ainda não havia pensado nesta possibilidade, nem mesmo quando falei com o Marco sobre o Verão passado, sobre o modo como nos conhecemos e depois concluímos que devíamos ter morrido no momento em que dissemos olá, pois a partir daí tudo o que nos aconteceu foi sempre demasiado perfeito e coincidente, como num sonho. Talvez seja o que me aconteceu agora. Voltei a morrer. Voltei a entrar noutra dimensão, assim como quando eu e o Marco e o Vilmo demos um passou-bem pela primeira vez e caímos ao chão, numa realidade, e continuámos a andar sem dar por nada, na seguinte. Talvez morrer seja isso, como eu e o Marco pensámos na primeira tarde da nossa conversa de três mil anos. Talvez passemos constantemente de uma vida para outra, sem nos apercebermos, ou notando apenas algumas coisas estranhas, em grande parte reveladas nos sonhos. Coisas demasiado subtis ou que estamos demasiado habituados a ignorar. Coisas que passam despercebidas na rapidez desalmada com que vivemos os nossos dias, na descrença em relação ao nosso instinto, ao nosso inconsciente, e a tudo o que não se pode provar facilmente, ou que apenas se sente. O Saul zangava-se comigo cada vez que eu falava destas coisas, na dimensão anterior. Replicava:
- O que é que isso interessa? Isso não vai tornar toda a gente vegetariana, nem vai mudar o mundo!
E eu não conseguia explicar-lhe que uma grande expansão da consciência universal poderia causar o milagre que ele esperava antes da auto-destruição do planeta. Eu não conseguia explicar-lhe que há coisas quase impossíveis de explicar, mas que se sentem e nas quais residem talvez outras soluções para juntar às acções directas dos guerreiros da liberdade. Eu não conseguia explicar-lhe que o amor e a arte são tão revolucionários como o ódio e a guerra. Ele dizia-me:
- Não há tempo!
Talvez não. Nunca chegámos a um entendimento. Ele odiava os humanos e a irrealidade. Eu amava o amor e os sonhos.
1 Comments:
"(...) E eu não conseguia explicar-lhe que uma grande expansão da consciência universal poderia causar o milagre que ele esperava antes da auto-destruição do planeta. Eu não conseguia explicar-lhe que há coisas quase impossíveis de explicar, mas que se sentem e nas quais residem talvez outras soluções para juntar às acções directas dos guerreiros da liberdade. Eu não conseguia explicar-lhe que o amor e a arte são tão revolucionários como o ódio e a guerra. Ele dizia-me:
- Não há tempo!
Talvez não. Nunca chegámos a um entendimento. Ele odiava os humanos e a irrealidade. Eu amava o amor e os sonhos."
Lindo!!!
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