A minha mãe está cada vez mais doente
A minha mãe está cada vez mais doente. Não quer ir ao médico. Diz que não quer descobrir que tem qualquer coisa horrível. Ela e o Luca vão mudar-se para um quarto no hotel onde eu trabalhei no Verão, e a Luna vem comigo para um centro de abrigo durante o fim de semana, e depois para uma casa de freiras no meio do Bairro Vermelho. Estou assustada. Sinto-me terrivelmente sozinha e a minha vida parece uma anedota, um pesadelo, um filme dramático. Mas, simultaneamente, a magia não cessa. A sorte acompanha-me, estranhamente acompassada com o acaso e com os limites do abismo. Sigo um rumo inconsciente que parece já estar traçado, e deixo-me flutuar. Mas tenho medo. Uma espécie de pânico incrédulo e indefeso. Deixo-me flutuar porque não posso fazer absolutamente mais nada. E assim, ao mesmo tempo, no meio de um vazio assustador, sinto uma paz de loucura. Na última noite antes de ter que sair de casa do Carel, ando com a Priscila aos berros pelas ruas escuras, ambas a cantar It’s a wonderful world, do Louis Armstrong. Parecemos duas adolescentes felizes e embriagadas, despreocupadas, alegres. Mas carregamos nos ombros pesos invisíveis do tamanho do mundo.
2 Comments:
só queria ter estado por aqui á mais tempo! Sorry
LOve you
love you too, sempre e para sempre como numa história interminável, e quando morrermos de certeza que voltaremos a nascer e a encontrar-nos, de novo e de novo e de novo, que é o que provavelmente já aconteceu, e estamos constantemente a reconhecer que nos conhecemos de algum lado...
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